O grupo Andrade Gutierrez (AG) quer crescer e ampliar o leque de negócios. E a escolha de Otávio Marques de Azevedo, para a presidir a holding foi, em grande parte, devido ao perfil do executivo que é voltado para a busca de novas oportunidades, diz Sérgio Lins Andrade, seu antecessor e um dos sócios da empresa, criada em 1948 .

Andrade, no dia 14, deixou o comando da AG S.A. Está apenas à frente do conselho de administração, dentro de uma linha definida pelos representantes das famílias Andrade e Gutierrez de que sócios e seus herdeiros não mais ocuparão cargos executivos.

“A missão de Otávio vai ser de olhar para frente. Buscar oportunidades de investimento em negócios que não sejam muito grandes hoje, mas que venham a ser em dez anos”, afirma Andrade. Foi ele que trouxe o executivo para o grupo, em 1992, para planejar a entrada da AG em telecomunicações, um caminho definido para contrapor à redução dos contratos do governo na construção pesada, atividade original do grupo que este ano está respondendo por cerca de 30 % do seu faturamento.

O engenheiro Otávio Azevedo, na época, era vice-presidente da Telebrás. Na AG tornou-se um dos mentores do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, que se tornou Telemar e, este ano, passou a se chamar Oi. A operadora chegou a responder por mais de 50% do faturamento da AG. Mas com a ampliação da diversificação das atividades, em 2007 deve responder por 40% da receita total, estimada em R$ 7 bilhões, 15% superior ao do ano passado.

Andrade e Azevedo dizem que o grupo fazem mistério em torno de novidades, entretanto, frisam que há oportunidades até óbvias ajustadas ao perfil da AG: “O Brasil tem um déficit colossal em saneamento e algum dia o sistema de concessão vai ser estendido, pois, só assim, poderemos reduzir a carência de investimentos”, diz Andrade.

Azevedo complementa: “Logística também está muito atrás, o país precisa de investimentos em portos, aeroportos, ferrovias, armazenamento”, afirma. Ambos avaliam que a solução seria buscar mecanismos para ampliar e melhorar os aeroportos. “As concessões para empresas privadas deve ser um caminho”, frisa Andrade. O grupo já tem experiência. Desde 2005, venceu a concessão para exploração, por 35 anos, do Aeroporto Internacional de Quito, no Equador, que a própria AG construiu. A companhia já fez outros, como o da Ilha da Madeira.

O novo presidente da AG S.A. avalia, ainda, que há uma segunda e até terceira onda pós-privatização, com oportunidades de compra de empresas. “Há grupos como a EDF, MCI, Bell South, AT&T e outras grandes empresas internacionais que reviram os investimentos, muitas saíram do país. A EDF reduziu sua presença, o que gerou a oportunidade de, compramos a Light”, diz. Os parceiros são Cemig, Pactual Energia o Fundo Luce Brasil. O leilão da Brasiliana, em janeiro, é um novo negócio em pauta, segundo Azevedo..

“Existem muitas oportunidades em telecomunicações na América Latina. Podemos, por meio da Oi, junto com os demais sócios majoritários, adquirir ativos aqui e no exterior”, diz. E completa: “Temos muita experiência em serviços regulados. Nossa equipe conhece profundamente as normas que norteiam a Aneel, Anatel, ANTT, entre outros órgãos reguladores e vamos usar esse conhecimento”, diz Azevedo, 56 anos, mineiro, como as famílias criadoras da AG.

Com quase 60 anos de atividades, o grupo já passou por dois ajustes de rota. O primeiro foi no início dos anos 1990. A União reduzia os investimentos e foi aí que o grupo redirecionou a experiência em construção pesada para o exterior. E, também, partiu para a diversificação, não só em telecomunicações, como também, na concessão de estradas, com parceiras através da AG Concessões.

No ano 2000, foram definidos planos para dez anos que acabaram marcando o reforço na atuação na área de energia, Em 2006 veio a compra da Light. Agora há planos em geração. A AG faz parte do consórcio firmado com Odebrecht, Cemig e Furnas que disputará a construção e gestão das hidrelétricas do Rio Madeira.

Sérgio Andrade, que comandava a holding desde a criação, em 2000, diz que há anos tinha a intenção de ficar acompanhando o dia-a-dia do grupo, mas como presidente do conselho de administração. Queria, também, complementar o processo de profissionalização. Estão apenas no conselho de administração os filhos e netos dos três criadores do grupo: Flávio Gutierrez e Gabriel Andrade, que foram colegas de faculdade de engenharia e, convidaram para a sociedade irmão mas velho de Gabriel, Roberto de Andrade, pai de Sergio.

“Criamos um comitê executivo formado por um representante de cada um dos sócios fundadores. E estamos ampliando o conselho de administração, trazendo mais pessoas das famílias”, diz Sergio Andrade. No conselho de administração da parte dos Andrade, estão ele, Sérgio, e os primos Álvaro e Eduardo. Este último é da família, mas não é acionista. Foi presidente da construtora e está a mais de 40 anos no grupo.

Já do lado dos Gutierrez, Roberto, filho do fundador Flávio, faleceu em 2006. Uma de suas irmãs, Angela, entrou no conselho substituindo Roberto, e a outra, Cristiana entra em breve. O único conselheiro fora das famílias fundadoras é Celso Quintella, na AG há quase 20 anos. Roberto Gutierrez deixou dois filhos, Rodrigo e Henrique. O primeiro já entrou para o conselho. João Pedro e Marcos, filhos de Sergio Andrade, idem. E ainda Laura, filha do fundador Gabriel Andrade.

Sergio Andrade e Roberto Gutierrez eram muito alinhados. Sergio, um dos poucos focados fundamentalmente na AG, sempre esteve ativo na companhia. Gutierrez, por sua vez, desenvolveu outros negócios, como fazendas e hotéis. Mas ambos inspiraram o processo de diversificação do grupo deflagrado em 2000.

Fonte: Valor Econômico